Saturday, December 30, 2006

Da "homenage"

Do meu grande e sempre professor de literatura Octavio Da Matta, literatura de cordel:
"A minha querida Pati
é mestre no jornalismo
gosta de literatura
sabe também modernismo
e agora também dá aulas
com todo esse brilhantismo.
De Belô a Porto Alegre
sai espalhando cultura
entrevistando a gente,
fazendo literatura
e além de tudo a guria
é a maior formosura.
Minha querida Patrícia
rendo aqui essa homenage
pra essa pessoa que leva
carinho e amor na bagage
saúde, sorte e sucesso
pra você nessa viage"
Tudo isso feitinho de improvisu, bem pontual, numa prosa virtual...

Tuesday, December 26, 2006

Da essência

Pandora sempre foi uma caixinha de surpresas. Desde pequena surpreendia a famiília com sua sagacidade e jeito imprevisível. Começou a ler antes de aprender na escola. No carro com a mãe, o jornal em cima do colo, soletrou uma palavra da manchete principal: PE-CA-DO. A mãe quase bateu o carro de susto... e orgulho. Mal sabia ela que há muito Pandora costumava segredar para si as palavras dos outdoors da cidade. Tinha só cinco anos.
Cresceu ouvindo que o sexo feminino deveria prezar a independência porque os homens não prestam. Com 16 anos e corpo de mulher começaram os estragos. Aos 22 - estagiária de uma empresa de comércio exterior -, de tailler moderninho e salto agulha, pisoteava corações masculinos. O figurino era recheado com um corpinho de 1.75 m e medidas 90-60-90. Aos 25, já contratada pela empresa de comércio exterior, as medidas mudaram. Ela não. A primeira e a última ganharam alguns ml de silicone: 96-60-102. Números não mais arredondados, em compensação o corpo sim. Este também ganhou mais adeptos.
Cercada de "homens vazios", como ela mesma dizia, fazia do jogo da sedução seu melhor passatempo. E o sofrimento dos pobres que se achavam pretendentes, sua melhor recompensa. Cultivava nos outros os pecados da luxúria e da ira. Controlava a avareza, a gula e a preguiça. Despertava a inveja feminina. Emanava soberba.
Aos 29, funcionária pública bem sucedida e residindo nos arredores da Lagoa Rodrigo de Freitas, perdeu a graça de viver. Sentia falta de um bração constante que a envolvesse na hora de dormir. Alguém do sexo oposto para lhe fazer carinho no domingo à noite. Pra brindar um cálice de vinho tinto num dia feliz. Pra brigar pela fatia de bolo mais recheada. Queria um filho.
Conheceu Matoso, nordestino da porra, funcionário público em estágio probatório. Bonitão, morenão, machão, diferente dos tipos modernos e sensíveis que tinha se acostumado. Ficou louca. Ele cultivou nela a luxúria, a ira, a gula e a preguiça. Ela passou a despertar a compaixão feminina quando deixou a soberba embrulhada na gaveta da escrivaninha do Matoso. Aos 32 casou, teve 3 filhos homens e emendou a licença maternidade com o trabalho doméstico.
Pandora descobriu-se Amélia...

Wednesday, December 20, 2006

Do calor de Santa Maria


No verão que deixei Santa Maria, no Centro do Rio Grande do Sul, deixei pra trás só o calor. O resto veio comigo. Pelo menos em um aspecto fiquei feliz ao entrar no ônibus com ar condicionado. Olhava triste para o Igor da janela e, além de triste, ele, tadinho, me olhava com calor. O termômetro da rodoviária condenava quarenta graus sufocantes. Para se ter uma idéia, no tórrido dezembro dentro da república, quando os moradores saíam para a aula, eu juntava o ventilador de todo mundo, ao todo três, em cima de mim. Era só sair da rota dos ventinhos que o suadouro recomeçava. Sim, não é só de frio que vivem os gaúchos. E quando me sentia abafada, irritada, prestes a pular da janela e quase rouca de tanto gritar: "Senhor, que calor!", me vinha Manuel Bandeira na cabeça, refrescando (pelo menos) a memória: "Tu reclamava de barriga cheia do calor de Recife, muié".
Brisa

Vamos viver no Nordeste, Anarina.
Deixarei aqui meus amigos, meus livros, minhas riquezas, minha vergonha.
Deixarás aqui tua filha, tua avó, teu marido, teu amante.
Aqui faz muito calor.
No Nordeste faz calor também.
Mas lá tem brisa:Vamos viver de brisa, Anarina.
(Manuel Bandeira)

Tuesday, December 19, 2006

Do Rio Grande do Sul II

Até o domingo à noite é bom...

Monday, December 11, 2006

Da decepção

Muitos já sabem que Igor, meu namorado, é canhoto das idéias. Membro da União Nacional dos Estudantes e filiado ao Partido dos Trabalhadores, ele luta contra as injustiças sociais. Morro de orgulho! E Confesso que muito tenho aprendido com ele. A sociedade pra mim tem outra cara agora. Mas às vezes nossas palavras ainda trombam... Tipo assim:
- Ei, amor! Sabe o que meu pai ganhou de natal de dois clientes?
- O quê?
- Um palmtop e um laptop!
Ele que estava deitado com a cabeça no meu peito, esticou o pescoço e me encarou:
- Mas teu pai é médico de elite então???
- Anhan. O melhor médico tem que cobrar caro, né? - corujei
- E ele ainda salva a vida deles?!
Gargalhadas e beijinhos. Silêncio.
- Mas é com o dinheiro dessa elite que às vezes a gente faz umas farrinhas boas...
- Báh... - murmurou decepcionado

Thursday, November 23, 2006

Do aconchego

Se no céu não tiver cadeira de balanço... o que será de Tia Celina que foi para o céu...?*






*Adaptação do poema de Mário Quintana para Tia Élida.

Monday, November 13, 2006

Do lexotan de supermercado

Tem dia que só uma overdose de açucar me acalma.
Acho que a dose de ontem me manterá serena até o mês que vem:
2 torrones + 1 serenata de amor + 1 laka + 25 balinhas setebelo.

Não, não. Não foi ao longo do dia. Um atrás do outro.
Sim, sim. Esses ataques coincidem com minha tpm.
Mas bem que o peso na consciência podia não descer para os quadris, néam?

Por favor! Alguém sabe como evitar doces e ser feliz?

Monday, October 09, 2006

Da poesia sem verso

- Você se lembra quando nós dormimos na praia de Boracéia? E não tinha lua nem um pouco de luz para distinguir as coisas da terra. Tudo era um negro só. Nós estávamos perto do mato e sentíamos aquele cheiro de clorofila misturado com o nosso suor. Quando você deitava sobre mim, as estrelas em volta da sua cabeça brilhavam, distantes, e às vezes embaraçavam no teu cabelo e ficavam a um palmo dos meus olhos e depois fugiam rapidamente para o céu. Você se lembra...?
- Não lembro disso porque foram seus olhos que viram. Eu estava do outro lado de você e via e sentia outras coisas. Para mim, tudo exalava de você confundido com a terra, e eu nem te enxergava direito. Eu descobria teu corpo caminhando nele com os dedos. Naquela noite o prazer e o peso de estar no mundo foram maiores que sempre. E tudo tão simples: eu e tu, sós, deitados na areia perto do mato, trocando pedaços de carne em plena noite.

Friday, September 08, 2006

Da Guerra

"Os aviões abatidos
são cruzes caindo do céu"

Mario Quintana! Tinha que ser tu.

Friday, August 18, 2006

De perto ninguém é normal

A Cíntia é uma guria que mora no mesmo apê que eu aqui no Rio Grande do Sul. Esta semana ela começou um estágio no hospital psiquiátrico da universidade. Um dos pacientes, que aliás se encantou por ela, pôs-se a examinar minuciosamente seu rosto, só que de um jeito diferente das outras vezes.
- O que foi? - Perguntou ela
- Por que você tem um brinco no nariz e não tem nas orelhas?
E ainda dizem que o louco é ele...
***
Falando nisso, há uns quatro anos, o filho de uma amiga da minha mãe que à época devia ter uns cinco, fitou curiosamente minha tatuagem nas costas e perguntou:
- O que é isso?
- Um desenho... - respondi
- E por que você não desenhou no papel?
É. As crianças e os loucos também tem razão.

Friday, August 11, 2006

Do casamento



..."Se eu tivesse casado na igreja seria a mais convencional das noivas. Só uma coisa tentaria mudar, ainda que recebesse um sonoro não: o sermão do padre. 'Promete ser fiel na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, amando-lhe e respeitando-lhe até que a morte os separe?' Bonito, mas dramático demais. Os noivos saem da igreja com uma argola de ouro no dedo e uma bola de chumbo nos pés. Seria mais alegre e romântico um discurso assim:

ELA: 'Prometo nunca sair da cama sem antes dar bom-dia, deixar você ver seu futebol na tevê sem reclamar, ter paciência para ouvir você falar dos problemas do escritório, ter arroz e feijão todo dia no cardápio, acompanhar você nas caminhadas matinais de sábado, deixá-lo em silêncio quando estiver de mau humor, dançar só para você, fazer massagens quando você estiver cansado, rir das suas piadas, apoiá-lo nas suas decisões e tirar o batom antes de ser beijada'

ELE: 'Prometo deixar você sentar na janelinha do avião, emprestar aquele blusão que você adora, não reclamar quando você ficar 40 minutos no telefone com uma amiga, provar suas receitas tailandesas, abrir um champagne todo final de tarde de domingo, assistir junto ao capítulo final da novela, ouvir seus argumentos, respeitar sua sensibilidade, não ter vergonha de chorar na sua frente, dividir vitórias e derrtoas e passar todos os natais ao seu lado'

Sim, sim, sim!!!" Eu aceito!!!!
Martha Medeiros em Trem Bala

Friday, August 04, 2006

Da definição

Sorriso: 1. ponte iluminada para o Natal; 2. telegrama assinado pela alegria; 3. tique nervoso de quem ama; 4. holofote próprio para iluminação de tocas de tristezas; 5. subproduto de noite divertida sob (ou sobre) lençóis; 6. antônimo de mágoa; 7. melhor amigo dos pirulitos de morango; 8. prévia de carnaval dentro do peito; 9. veleiro à deriva no mar da vida; 10. arrecife de pérolas; 11. cartão de visitas da gargalhada; 12. alimento preferencial da paixão; 13. muralha contra invasões bárbaras; 14. creme dental refrescante; 15. inimigo figadal do desprezo; 16. as time goes bye ; 17. um dos irmãos Marx; . (Ex.: “Vem, meu sorriso, que a vida corre depressa e é preciso descalçar os sapatos e pisar nas nuvens antes que elas amadureçam". - in Coisas de Amor Largadas na Noite, E. Almeida)

Lágrima: 1. saudade na forma líquida; 2. mistura de água do mar com alma moída; 3. secreção aquosa expelida através dos canais lacrimais quando se espreme o coração; 4. felicidade que escorre pela face; 5. estrela cadente que despenca do céu dos olhos de quem ama; 6. motivo da existência de lenços brancos; 7. resultado da fusão de sentimentos contraditórios quando submetidos a altas temperaturas; 8. nome comumente dado ao fim de um romance; 9. momento que antecede o adeus; 10. pedaço de ontem; 11. antônimo de desprezo; 12. matéria-prima das jujubas; 13. grande inspiração dos poetas; 14. fado de Amália Rodrigues; 15. na Europa, folha que cai da árvore quando chega o outono; 16. na infância, associada ao berro, alarme de fome; 17. na velhice, fome de colo; 18. névoa úmida que cobre o mundo quando chove dentro da gente. (Ex.: "Não, isso não é lágrima, não. É que a felicidade virou mar dentro de mim e a maré acabou de subir". - in Coisas de Amor Largadas na Noite, E. Almeida)

Tanta sabedoria e poesia são do dicionário lúdico brasileiro de André Gonçalves...

Friday, July 28, 2006

Da diversidade*

Era uma vez dois meninos interessantes. Um tinha um quê de barroco. O outro um jeito romântico. O primeiro era lindo, astuto e simpático. O segundo era belo, inteligente e carismático. Eles tinham tão tudo a ver que enquanto um terminava de elaborar uma anedota, o outro já desembuchava a tal pilhéria sobre qualquer coisa inusitada que viram ou ouviram. Riam juntos então.

Mas barroco e romântico há muito sentiam a poesia esmorecer. Além de se privarem de tantas vontades comuns a todos os seres humanos, os dois tinham quase sempre que reprimir o desejo de um pelo outro. Beijos, abraços e afagos exigiam hora marcada. Até o dia em que o segundo saiu em disparada da casa do primeiro – sem nem se despedir – ao ouvir um terceiro chegar.
Ao telefone 30 minutos depois:

- Ah não! A gente tem que dar um jeito nisso! – revoltou-se o primeiro
- Mas como? – Suspirou desacreditado o segundo

De pernas elegantemente cruzadas e recostado no sofá de couro vermelho, o primeiro pensou, pensou, pensou. Pensou mais um pouquinho e acendeu um cigarro. Pensou, fumou, pensou, fumou, pensou... e oito maços depois encontrou a solução.

- Vamos embora daqui. Vamos para a Holanda! – gritou entusiasmado o primeiro.
- Holanda??? He-Hé-Hé! Agora? Como? Por que?
- Lá é um país liberal. As pessoas usam drogas no meio da rua. Ouvi dizer que tudo pra eles lá é normal... Eles todos lá são adeptos do “Movimento Vaca”: tão cagando e andando pra tudo. Por isso as vacas holandesas são conhecidas no mundo inteiro!
- Mas como a gente vai fazer pra ir agora?
- Indo! Ou você quer esperar que a sociedade mude? Eu não quero ficar protestando para que as gerações futuras possam usufruir de tudo enquanto eu já tô morto. Quero ser feliz com você agora!

Lá no outro continente as coisas eram bem diferentes. Mas tal qual a sociedade brasileira, a holandesa ainda precisava evoluir quando a questão envolvia o mesmo sexo. Voaram então pra uma ilha deserta no Peloponeso. Viveram 9 dias de paz, sem nenhum olhar ameaçador lhes dilacerando a alma. Até que a Guarda Costeira apareceu de repente. Apanharam em flagrante os dois deitados na areia, um de frente pro outro, dando risada com as pernas enroscadas. Foram presos por atentado ao pudor. Paradoxal, mas enfim...
No final das contas, o governo brasileiro pediu a extradição do casal. Apelou para o discurso da aceitação das diferenças e da necessidade de uma sociedade justa e democrática que tanto o Brasil luta pra ser. O segundo ficou empolgado:

-Agora com essa intervenção do presidente, nosso caso vai virar manchete. As pessoas vão se sensibilizar e vai ser um grande passo para vivermos em paz...

Quando chegaram no Brasil, estranharam. Nenhum burburinho sobre o episódio. Era época de campanha eleitoral e o então presidente preferiu abafar o caso. Era preferível manter o status quo a provocar polêmica. Afinal, não queria perder os votos da maioria da população do país, que era conservadora. Não podia arriscar. A justiça brasileira decidiu absolvê-los, mas os dois tiverem que assinar um termo em troca. O documento exigia o silêncio de ambos. Assim foi feito.
Fatigado, mas obstinado, o primeiro não desistiu.

-Vamos para os Estados Unidos. Lá é a terra das oportunidades, o país da democracia...

O segundo igualmente obstinado apoiou a idéia. Mas, na véspera da viagem, Bush baixou um decreto proibindo a entrada de latinos, negros, e homossexuais no país sob pena de morte. O governo americano considerava a estirpe um bando de terroristas em potencial. Era fuzilamento na certa.

O primeiro continuou pensando. Pensou, pensou, pensou. Acendeu um cigarro. Pensou, fumou, pensou, fumou, pensou... até que...

- A solução é irmos embora do planeta. Aqui não vamos nunca ser plenamente felizes...

Uniram as persistências e as inteligências. Numa nave espacial de cores modernas foram baixar num planeta distante, em outra Galáxia a qual deram o nome de “Gayláxia”. Aterrisaram num planetinha aconchegante onde a morte não existia, nem a rotina e nem domingo à noite. Do chão brotavam alimentos light, mas com gosto bom de guloseimas. No céu, um arco-íris lá pairava sempre. Construíram uma casinha no final do arco-íris, representando que tinham finalmente encontrado o tesouro.
O planeta, o segundo resolveu batizar de “Tô-nem-aí-véi”. Mas o primeiro, estritamente avesso aos erros gramaticais, fez cara ruim.

- Tem que ser Tô-nem-aí (vírgula) véi, porque o vocativo tem que ser separado por vírgula.
- Mas é só uma nomenclatura...
-Mas você sabe que eu fico agoniado com erros de português!

Ficou “Tô-nem-aí”. E eles foram felizes para sempre a milhões de anos-luz daqui. Porque na Terra eles também tinham tudo para ser feliz, só que a gente desse mundo não deixava. E é por isso que nesse texto eles não tem nome.

E 300 anos depois, o já consolidado movimento gay derrubou o regime totalitário mundial imposto pelo presidente Bush no século XXI. Os homossexuais finalmente tomaram o poder. O planeta azul ficou rosa e bem melhor de se viver.
*Baseado em fatos reais

Monday, July 10, 2006

Da independência

Sem "Cráudia" e longe de mami, tenho usado minhas mãos e pernas em prol dos afazeres domésticos. Lá no lar de Belo Horizonte me preocupava só com a organização do quarto e com meia dúzia de talheres. Agora tenho dedicado meus sábados à exaustivas faxinas, além das tarefas domiciliares do dia a dia. Estou meio que levando uma vida de estudante depois de formada. Minhas mãos estão ressequidas e enrugadas de tanto manusear e carregar baldes de água sanitária. Microondas. Putz, microondas faz falta. Como demora pra esquentar comida na panela! E toda a louça que fica pra lavar na hora da sesta?
Semana passada, mais um desafio. Diante da pilha de roupa suja me dei conta de que nunca aprendi a lavar roupa na máquina de lavar. Nunca precisei fazer isso, ué! Sabia que tinha uma parada de separar as roupas coloridas das brancas. O Igor, então, me explicou tudinho... Da cozinha, ele me viu examinando uma blusa de manga comprida:
- Que foi, amor?
- Como que faz com essa aqui? Ela é colorida mas tem três listras brancas...
- Soca na máquina, môre...
- E esse moleton laranja e roxo? Ele não vai manchar esse meu short rosinha?
- Soca na máquina, môre...
"Soca na máquina, môre". É né? Pois tirei de lá umas meias psicodélicas com manchas roxas e laranjas! Eu sei, eu sei... não há aprendizado sem manchas, certo? ;)
Tem sido divertido...

Wednesday, July 05, 2006

Da copa

Como bem falou (e disse) Arnaldo Jabor, o time da seleção jogou contra a França com a displicência de quem ganha milhões e desfila com "louronas" pelo mundo. E o pior de tudo é que eles ainda tiraram da gente os ares de copa. Sem mais bandeirolas, nem apitos, nem verde e amarelo colorindo cada esquina, nem cidade com cara de domingo em pleno horário comercial. Lá se foi junto o patriotismo e a ilusão de igualdade. Mas já viram... lá se foram os feriados e essa droga de realidade voltou mais cedo. Bando de milionários incompetentes!
Roubando as palavras do chato do Agostinho do BBB 6: "Obrigada, Brasil" !
Valeu mesmo por nos sufocar com a rotina antes do tempo!

Wednesday, June 28, 2006

Monday, June 26, 2006

Da leitura

Conclui a leitura de "Cem anos de Solidão", de Gabriel García Marquéz. A obra-prima é repleta de trechos que me deixaram incrédula e imóvel por alguns minutos. Nesse tempo, só conseguia reler, sublinhar e pensar "Puta que pariu pra esse cara". Às vezes chorava também. Não estou com o livro aqui, senão reproduziria o parágrafo sobre o enterro do Coronel Aureliano Buendía e o outro que descreve o pouso de emergência da aeronave em meio às violetas. Era emergencial para Amaranta Úrsula e seu marido deitarem em terra firme quando sentiram fome, um pelo outro, lá no céu. O livro como um todo é mais do que uma obra-prima, é uma coletânea de linhas primorosas.

Adoro quando me deparo com partes assim. Fico com cara de comovida enquanto me delicio com a sucessão perfeita das palavras. Como não tenho Garcia Marquez em mãos, coloco aqui a crônica de Martha Medeiros desta semana. Esta é outra escritora que deve chorar depois de ler o que escreve. Além de me deixar com cara de choro a cada texto seu. O desta semana me pegou desprevinida. Chorei até soluçar.

Primas,
Isso era tudo o que eu queria dizer...


A morte é uma piada

Assisti a algumas imagens do velório do Bussunda, quando os colegas do Casseta & Planeta deram seus depoimentos. Parecia que a qualquer instante iria estourar uma piada. Estava tudo sério demais, faltava a esculhambação, a zombaria, a desestruturação da cena. Mas nada acontecia ali de risível, era só dor e perplexidade, que é mesmo o que a morte causa em todos os que ficam. A verdade é que não havia nada a acrescentar no roteiro: a morte, por si só, é uma piada pronta. Morrer é ridículo.

Você combinou de jantar com a namorada, está em pleno tratamento dentário, tem planos pra semana que vem, precisa autenticar um documento em cartório, colocar gasolina no carro e no meio da tarde morre. Como assim? E os e-mails que você ainda não abriu, o livro que ficou pela metade, o telefonema que você prometeu dar à tardinha para um cliente? Não sei de onde tiraram esta idéia: morrer. A troco?

Você passou mais de 10 anos da sua vida dentro de um colégio estudando fórmulas químicas que não serviriam pra nada, mas se manteve lá, fez as provas, foi em frente. Praticou muita educação física, quase perdeu o fôlego, mas não desistiu. Passou madrugadas sem dormir para estudar pro vestibular mesmo sem ter certeza do que gostaria de fazer da vida, cheio de dúvidas quanto à profissão escolhida, mas era hora de decidir, então decidiu, e mais uma vez foi em frente. De uma hora pra outra, tudo isso termina numa colisão na freeway, numa artéria entupida, num disparo feito por um delinqüente que gostou do seu tênis. Qual é?

Morrer é um chiste. Obriga você a sair no melhor da festa sem se despedir de ninguém, sem ter dançado com a garota mais linda, sem ter tido tempo de ouvir outra vez sua música preferida. Você deixou em casa suas camisas penduradas nos cabides, sua toalha úmida no varal, e penduradas também algumas contas. Os outros vão ser obrigados a arrumar suas tralhas, a mexer nas suas gavetas, a apagar as pistas que você deixou durante uma vida inteira. Logo você, que sempre dizia: das minhas coisas cuido eu.

Que pegadinha macabra: você sai sem tomar café e talvez não almoce, caminha por uma rua e talvez não chegue na próxima esquina, começa a falar e talvez não conclua o que pretende dizer. Não faz exames médicos, fuma dois maços por dia, bebe de tudo, curte costelas gordas e mulheres magras e morre num sábado de manhã. Se faz check-up regulares e não tem vícios, morre do mesmo jeito. Isso é para ser levado a sério? Tendo mais de cem anos de idade, vá lá, o sono eterno pode ser bem-vindo.

Já não há mesmo muito a fazer, o corpo não acompanha a mente, e a mente também já rateia, sem falar que há quase nada guardado nas gavetas. Ok, hora de descansar em paz. Mas antes de viver tudo, antes de viver até a rapa? Não se faz.

Morrer cedo é uma transgressão, desfaz a ordem natural das coisas. Morrer é um exagero. E, como se sabe, o exagero é a matéria-prima das piadas. Só que esta não tem graça.

Martha Medeiros

Friday, June 16, 2006

Da sinestesia

A emoção que veio vermelha
virou saudade branca
e ficou lembrança cor-de-rosa
do teu olhar azul
do meu sorriso amarelo
e daquele nosso desejo tão cor-da-pele

Martha Medeiros

Tuesday, June 13, 2006

Da procrastinação



Tem coisa melhor do quê, sem remorso, trocar a aula de ginástica por um cochilinho e uma sessão de doces?

No detalhe, um saco vazio de gelatinas formato de tubarão. Tipo aquelas que vendem no peso na "Sweet Sweet Way" e na "Honey Honey", sabem? Um dos meus vícios... mas sempre me pergunto por que essas guloseimas têm uma aparência tão repugnante: DENTADURAS, caveiras, tubarões e OVO FRITO... Pois é, gelatina doce com forma de ovo frito. Também me questiono como tais aspectos não tiram o meu apetite. Que diabos de estratégia de marketing é essa?

Falando nisso... Diálogo entre eu e Igor:

- Amor, vou na padaria.

- Ai, amor! Compra dentadura pra miiiiiiim - pedi manhosamente

- Dentadura?! Nunca vi isso...

- Môre, você acha na última prateleira, perto do freezer.

- E fica dentro de um copinho com água?

Ele não achou a dentadura. Mas trouxe um saquinho de gelatinas de cobrinhas e uma caixa de ferrero rocher. :)

P.S- A foto foi tirada por Quel que sucumbiu à graça da cena.

Monday, June 12, 2006

Do amor

É de Bearzi...

Igor dá gosto e cheiro ao amor
Ele tem gosto de beijo roubado atrás da árvore,
de alegria de menino moleque
quando pega fruta do pé.
Tem cheiro de flor de enfeitar cabelo de menina faceira,
de bolo de fubá com café,
de obra de arte de vó...
Igor não é só um namorado...
é infância que não acaba nunca!

Ele também tem aquele gosto bom de quando a gente troca o salto pelo chinelo...

Amor,
Hoje é dia dos namorados, mas dia 20 é dia de nós dois!
Por favor, Papai do Céu, faz a Terra girar mais rápido pro dia 20 chegar logo...

Friday, June 09, 2006

Da angústia

Tem dia que a gente só quer ficar em frente à TV, debaixo da coberta, se escondendo da frieza do tempo e do mundo. Sair da redoma de retalhos só depois daquela dorzinha que irradia da alma pro peito passar...
Meu coração tá espremido, do tamanho e textura de uma jujuba sem cor.
Conservo os grãozinhos de açúcar...

Wednesday, June 07, 2006

Do Coreu

De franjinha, estive no laboratório de video da PUC ontem. Fui encontrar com o Renato que lá preparava seu sublime portifólio de jornalismo de TV. Pedro Bial e Fátima Bernardes, direto da Alemanha, sentiram arrepio. Não de frio, mas de concorrência. Deu saudade daquela sonífera ilha gelada.

Depois, ao som da radiola de agulha quebrada, tomamos cerveja no Marcílio e comemos "coisas gordas", como sempre quando nos encontramos. Deu saudade do frango à passarinho e da batata frita crocante da Marcília.

Às 22:30h em ponto fechamos a conta. A idéia era pegar o "Boca do Forno" aberto para comermos uma fatia de torta. Na esquina do Marcílio, Renato vislumbrou as luzes acesas, as mesinhas ocupadas e os portões de ferro ainda no alto. Saiu correndo feliz, dando pulinhos à lá "I'm singing in the rain". Na altura de um poste que fica a meio caminho "do Boca", as calças da figura saltitante estavam nos joelhos. Desconcertado, com a cueca branca e a cara vermelha de tanto rir, gritou: "Minha calça!!!!!!!!!", enquanto levantava a mesma. Duas meninas que passavam não puderam deixar de assistir. Deu saudades da Izabel presenciando aquela cena comigo.

Uma torta de prestígio calou a nossa boca por alguns minutos. Murmuramos apenas "Huuuuums" à medida que detonávamos a fatia. No caixa, não resisti ao bombom de moranguinho feito com Novomilk, segundo o Renato. De Novomilk ou Quick, ele abocanhou metade do meu depois de eu ter oferecido um inteiro só para ele. Indo embora, tive que presenciar uma frase clássica, bem do Renato Soares. Vendo a faixa pendurada com o slogan "Na copa, coma todos os dias na Boca do Forno", ele disparou em direção ao dono: "Ei, Márcio! 'Na copa, coma todos os dias na Boca do Forno e vire uma bola, né?'". O Márcio não conseguiu esconder o riso. Deu saudades dos dias de gula e de saladas no Boca do Forno.

Para celebrar e findar o encontro, fumamos um cigarro na pracinha ao som da música ao vivo do cantor mudo do 'A Granel' (essa parte só Renato vai entender). Nem precisamos pagar couvert, já que, de onde estávamos, dava para roubar o som do restaurante. Deu saudades de correr dali para chorar no sofá-cama azul do apê 1403. Muitas saudades do apê do edifício Key West que, há quase seis meses, conserva a luzinha verde da varanda apagada.

E quase todo o brilho do Coreu também foi junto com aquelas duas candangas duma figa...

Wednesday, May 31, 2006

Da heresia

Vi essa citação no blog da Maria, ex-colega de trabalho do Jornal MARCO, o Jornal:
"O erotismo salvará o mundo. Os homens aprenderão a espiritualizar a carne e a transformar em prece todos os seus desejos inconfessáveis. Deus permitiu que houvesse a pele sedosa e o lábio ardente e o seio macio e o dorso luminoso. A carícia do corpo humano vai, um dia, torná-lo divino"
Na seqüência cabe Martha Medeiros:
"Minha boca é pouca pro desejo que anda à solta"
"Mesmo tendo juízo não faço tudo certo
todo paraíso precisa de um pouco de inferno"
E por fim...
Se escrito por mim, o sexto mandamento ordenaria: "Festejarás o corpo". E o nono, que desconfia do desejo, o declararia sacro.

Tuesday, May 30, 2006

Do filme

Há muito tempo não chorava vendo um filme. Chorei assistindo Crash. Chorei por mim, chorei pelas pessoas. "Celebrei" nossa hipocrisia e "louvei" o preconceito. Desabei pelos bons,
como aquele careca tatuado com cara de mau tão humano...
o negro que desembrulhou da mão um santo...
A menininha que tentou proteger o pai...
A empregada dedicada...
Crash desabou meu mundo. Seria bom construir outro. Outro só de carecas tatuados com cara de mau, de negros devotos a São Cristovão, de menininhas e de empregadas...
"A ciência sabe como levar o homem à lua, mas não sabe como fazê-lo amar" (Rubem Alves)

Monday, May 29, 2006

Do Vexame

Foi no início deste mês. Por razões orkutianas estava chateada. Chateada não. Puta.
Quel, então, me chamou para uma festinha. "O Bê vai tocar para uns amigos. Bora?" Não tinha dinheiro nem para comprar um cigarro picado. Mas animei. "Não tem que pagar nada não, né?". "Não, pô. Uma festinha de amigos". Achei que ele ia tocar para poucos no quintal da casa de alguém. Vesti calça jeans, camiseta básica e coloquei um salto, claro. Salto não. Saltão.
No entanto, Bê, que conhece até o papa Bento XVI, nos leva para um estúdio de um fotógrafo chiquetésimo. O local tinha se transformado em boate para a ocasião. Na porta, dois seguranças grandalhões. Lá dentro, fumaça, música, luzes coloridas e muita gente. Que nem balada mesmo. Fiquei chocada. O clima festeiro me contagiou. "Pô, Quel... A gente devia ter trazido um dinheirinho..." "Putz! Eu também não trouxe nada". Foi quando eu vi uns garçons passando ao nosso lado com uma jarra reluzente. "Quel, pô! Tem uns garçons passando com cerveja. Será que a gente pode pegar?". "Eita pô! Pergunta, meu"
- Moço... Como é o esquema? A gente paga aonde pela cerveja?
-Precisa pagar nada não, moça. Agora, se quiser, pode dar uma gorjeta pro garçom!
"Quel, Quel!!! É de graça!!! Meu irmão, doido! Bê é o futuro!", comemorei, com os olhinhos brilhando, toda serelepe. O garçom ficou dando risada.
Com sorrisão no rosto, segui festa adentro. Encontrei gente conhecida. Conheci gente nova. Inclusive conheci o dono da empresa que atrasava meu pagamento no último emprego. Mas era tudo festa. Depois do sermão, até rimos juntos. A música tava boa. Vai e vem de jarras reluzentes e logo precisei ir ao banheiro. Só tinha um e a fila estava gigante. Passaram uns 5 minutos e eu ainda estava no mesmo lugar. Puxei assunto com um menino de dread atrás de mim:
- Não entendo como as pessoas demoram tanto no banheiro. Eu sou tão rápida. Sorte sua que está atrás de mim.
O menino concordou comigo. E, de fato, sempre me vanglorio nesse assunto mesmo. E, não raro, quando saio do banheiro, a pessoa com quem eu dou de cara na porta me agradece com uma cara sofrida: "Poxa, valeu! Você foi tão rápida...." E o menino de dread comprovou. Faltou só me reverenciar.
Mas lá pela quarta vez que fui ao banheiro, não falei com ninguém. Só entrei, me achando, sabendo que os outros da fila não iam ter do que reclamar. Mal dei uma olhadinha no espelho, começaram a bater na porta insistentemente. Meu sangue ferveu. Pernambucana, escorpiana, depois de algumas cervejas e atormententada psicologicamente com recados virtuais do mundinho azul do orkut... Isso não podia dar certo. E as batidas continuaram. Aqueles toc tocs estavam dilacerando o meu brio. Imaginem a cena...
Abri a porta do banheiro com muita raiva e gritei:
- Quem foi?????????????
Vi que o próximo da fila era o Gabriel, um conhecido da PUC. Sabia que não podia ter sido ele, isso era coisa de mulher! E, diante do meu transtorno, ele dedurou. Apontou para uma menina miúda de cabelo amarrado. Me armei em cima do meu salto plataforma de 15 centímetros:
- Qualé, minha filha?
- Eu tô apertada, uai!
-Então agacha e faz aí...
Quando olhei para a fila, estava Quel. Plácida, mansa, perguntou: "Que foi"? "Eu demorei, Quel? Eu demorei no banheiro"?, repliquei esbaforida. "Eu não sei. Cheguei aqui agora". À medida que contava o ocorrido, sentia meu rosto esquentar. Quando meu sangue atingiu o ponto de ebulição, murmurei cerrando os dentes: "Ela vai ver..."
Na vez da menina, corri e comecei a esmurrar a porta do banheiro. "Pára, pára, a menina nem vai ligar", tentava Quel. Vendo que palavras não adiantavam, a dócil Quel me agarrou por trás e, literalmente, me deixou de mãos atadas. Ainda deu tempo de dar um bicudo na porta...
Uma foto seria mais indicada, já que estávamos em um estúdio fotográfico, mas a marca preta da sola da minha sandália plataforma deixou o momento registrado na porta do banheiro.

Sunday, May 28, 2006

Do artista

Fui fazer uma matéria para a revista Sagarana (www.revistasagarana.com.br) com um artista plástico mineiro renomadíssimo. Já tinha percebido um tom de desgosto quando conversei com ele ao telefone. Fiz uma pesquisa prévia antes de entrevistá-lo, claro. Prêmios, inúmeras exposições no Brasil e exterior e elogios da crítica foram o que encontrei. Achei que ele tinha motivos para ser feliz.
Cheguei no seu casarão imponente. Um lugar lindo, quieto, espaçoso, emoldurado por montanhas. Deve ser muito bom pintar num lugar como aquele. Vários cachorros deixavam o ambiente menos solitário. O homem que eu acreditava ser feliz trazia um ar de consternação. Abriu o portão com uma cara enfezada, o cabelo despenteado e a camisa suja de tinta. Foi hostil logo de cara. Reclamou do horário e se recusou a tirar fotos para a matéria. "Detesto dar entrevista ainda mais a essa hora da manhã. E não vou posar para foto porque vai parecer coluna social". Parecia até que tínhamos chegado de surpresa, mas tinha marcado dia e hora, diretamente com ele, com antecedência. Fiquei meio sem reação, contrariada, mas tinha um quê de simpatia por ele que vinha não sei de onde.
Ele andava de um lado para o outro. Sentava e levantava. Apagava um cigarro e logo acendia outro. Falava rápido, misturava os assuntos e eu mal conseguia anotar. Minha linha de raciocínio ficou torta. Então parti para a solidariedade típica dos fumantes. "Posso acender um cigarro também?". Ele foi carismático, respondendo afirmativamente com veemência. A partir daí começamos a nos entender.
Falamos da sua vida pessoal, profissional, dos seus gostos, crenças e desilusões. Ele confessou estar deprimido com a situação do país e com os valores do homem contemporâneo. Reclamou, reclamou, reclamou de tudo. Mas, no fim, entendi que ganha dinheiro com o que gosta. Ele cultiva o isolamento para produzir melhor. Mas também nem gosta de badalações. Um homem só que deixa só o seu nome correr por aí.
Antes de eu ir embora, ele me deu um livrinho sobre a sua vida para enriquecer a matéria. E ainda se deixou fotografar.
Não tive raiva. Tive vontade de pegar no colo.
Rendeu uma bela matéria...

Sunday, May 21, 2006

Da Vinci

Fui assistir ao filme "Da Vinci" logo na estréia. Estava animada. Pensei que um livro eletrizante daria, no mínimo, um filme interessante. Ledo engano. Durante a exibição, eu falava ou pensava "uêr" a cada intervalo de 10 segundos. O filme é super, hiper, mega, blaster ruim! Tom Hanks, com aquele cabelo lambido, incorporou um abestalhado e descabido Robert Langdon. Sophie não parecia Sophie. Não como eu imaginava: mulher encorpada, cabelos lisos e pesados até os ombros, pele branca e olhos claros. Não lembro se no livro é feita a descrição da protagonista. Mas eu nunca leio as descrições dos personagens com atenção. Prefiro imaginá-los do meu jeito. Aliás, fico frustrada quando já dei cara ao meu personagem e depois aparece uma narração "deturpada" do seu tipo.
Mas voltando ao filme, ele é antes de tudo CHATO! Monótono. Um saco. As cenas de ação são as mais "uêrs" da galáxia. Saltaram das páginas do livro e ganharam ares hollywoodianos nas telas: carro em marcha ré, alta velocidade, passa entre dois veículos, por uma frestinha onde até uma pulga tiraria fino. Aff! Por um momento achei que estava na sala errada diante de "Missão Impossível".
Resultado do filme: perdi 12 reais, perdi 3 horas e ingeri umas 2000 calorias devorando, impaciente, um saco grande de pipoca amanteigada e meio litro de coca-cola nada light. Minto. Quel perdeu 24 reais. Ela pagou para mim. Bichinha. Ou seja, saímos do cinema gordas, pobres e decepcionadas.
No entanto, vale salientar que sempre que um filme é produzido baseado em um livro, a maioria A-DO-RA exclamar: "o livro é muito melhor". Para mim isso é clichê. Não gosto desse exalçamento da literatura em detrimento do cinema. Mas no caso de "Da Vinci" me rendo ao lugar-comum. Ali, uma página vale mais do que mil imagens.

Thursday, May 18, 2006

De mim e de Martha

"sou uma mulher madura
que às vezes anda de balanço

sou uma criança insegura
que às vezes usa salto alto

sou uma mulher que balança
sou uma criança que atura"
(Martha Medeiros)
Por enquanto, mais um pouquinho de Martha Medeiros. Deixo para escrever meus textos mais tarde. Minha cabeça, olhos, ouvidos e dedos estarão ocupados, por um tempo, com pautas de outro segmento. Como é boa e inquieta a sensação de se vestir de jornalismo de novo!
Inquietude boa essa de jornalistar...

Monday, May 15, 2006

Da Martha

"não deixo pistas nem marcas de mordidas
ficam sempre escondidas
as provas da inocência"

(Martha Medeiros)

Sunday, May 14, 2006

Da saudade

(...) "A saudade é um buraco na alma que se abriu quando um pedaço nos foi arrancado. No buraco da saudade mora a memória daquilo que amamos: presença de uma ausência". (Rubem Alves)
Fui diagnosticada com sintoma de buraco na alma. Hoje a saudade veio rasgando...

Saturday, May 13, 2006

Do assassínio

**Mãe, você dá um livro de crônicas. No Dia das Mães do ano que vem ele deve estar pronto!**
Estava no quarto dormindo. Acordei com "Anunciação", versão para celular. É o toque do telefone da minha mãe. Do outro lado da linha, meu padrinho Tio Caé. Despertei com o volume de 2 milhões de decibéis da conversa (quem conhece minha mãe sabe do que estou falando). De repente... Ugh! Dorzinha na alma:

- Ah, Caé! Eu sigo aquele poema do Quintana: "Tudo aquilo que estorva minha passagem, passará. Eu passarinho".

Antes que Mário Quintana se revire (mais) na tumba, retifico: "Todos esses que aí estão atravancando meu caminho, eles passarão... eu passarinho!"

E essa não foi a única vez que ouvi meus poemas preferidos serem adaptados por mainha. Outro dia, eu estava no quarto, sentada na cama, lendo um livro apoiado no meu colo. Foi inevitável levantar, desconfiada, uma das sobrancelhas ao escutar minha mãe ao telefone com tia Ângela:

- A Pati me mostrou uma poesia linda do Quintana. Eu até decorei...

E ela começou a assassinar "Parece um sonho...". O poema é um pouco grande, não lembro os detalhes do homicídio literário. Lembro que levantei a cabeça e comecei a ouvir com um sorriso no canto da boca, pensando "Só mainha mermu". Procurei o livrinho de bolso do Quintana e abri na página 88. Levei até a sala.

- Tá aqui o poema, mãe.
- Ah, Ângela! A Pati trouxe pra mim. Vou começar de novo.

Voltei para o quarto e sentei, prestando atenção. Senti minha alma sendo costurada.

Friday, May 12, 2006

Do Tas

"Greve de fome não é coisa para Garotinho

É para gente Gandhi"

http://marcelotas.blog.uol.com.br/

Thursday, May 11, 2006

Da mainha

Quando penso nesse volume incessante de informação dos nossos dias, sempre lembro da minha mãe. Ela lê pilhas de livro do seu gosto e assiste filmes de arte. Mas nunca vê um noticiário. Nunca compra uma folha de jornal. Só coleta os dos vizinhos pra forrar o banheiro do Pimpo (meu cachorro, para quem não sabe). Mas às vezes, quando um assunto é relevante e começa a fazer parte das conversas do povo, acaba que ela fica sabendo. Como quando estourou aquele escândalo sobre o esquema daquele juiz Nicolau. Depois de semanas em pauta, minha mãe chega em casa e pergunta:

- Pati, quem é esse “Lalau” ?

Era, de fato, impressionante um brasileiro que não soubesse quem era o Lalau depois de tantas manchetes.

Agora foi a vez do petróleo da Bolívia.

- Privatizaram o petróleo da Bolívia?!
-Não, mãe. Nacionalizaram.
P R I - V A - T I -Z A -R A M! Foi assim que eu ouvi - Insistiu ela, sílaba por sílaba, se achando.

Whatever. Ela gosta mesmo é de poesia.

Do palhacinho

Garotinho fazendo greve de fome? Que democrático! Agora sim ele está de acordo com a maioria do povo (dos garotinhos e garotões)...

Garotinho em pauta, lembrei de uma frase dele que me fez gargalhar. Ridicularidades a parte, a retórica do Garotinho inspira boas risadas. Li a tal “máxima” no jornal e nunca mais esqueci. Foi durante a última campanha eleitoral, época em que o caderno de política mais parece caderno de piada. Estava dentro do ônibus, indo para a faculdade e, como de costume, ia lendo as notícias no caminho. Preto no branco, Garotinho atacava o também então candidato à presidência José Serra. Referia-se ao fato de Serra não ter conseguido controlar a epidemia de dengue quando era Ministro da Saúde. E arrebatou:

“Ele não conseguiu nem derrotar um mosquito, quanto mais um garotinho...”

Gargalhadas no ônibus.

Wednesday, May 10, 2006

Do diálogo

Esta semana minha irmã foi testemunha de um diálogo, no mínimo, cômico.
Durante a aula, no curso de publicidade, o professor mencionou o “Blog do Tas”, que é do diretor, apresentador e roteirista Marcelo Tas.
Enquanto isso, no fundo do sala:

- Quem é esse Tas? – perguntou um menino para a colega da carteira ao lado
- É aquele bichinho que faz Vrrrrrrrrrrrrrrr (e a menina começou a rodopiar o dedo indicador fazendo alusão ao movimento frenético do Tazmania). Sim, pessoas. Ela estava falando do Taz, aquele bicho doido do desenho animado.
- Ele tem blog? – perguntou o menino incrédulo
- Deve ter. Hoje todo mundo tem...


Fiquei bege.

Falando no Tas, o texto de hoje merece destaque. Pequeno e inteligente.

"A sanguessuga é um anelídeo da sub-classe Hirudínea. São animais hermafroditas, ou seja, fazem sexo consigo mesmas. Não precisam de ninguém para se satisfazer. Resolvem tudo sozinhas. Possuem ventosas para grudar e chupar o sangue de animais mortos ou quase mortos. Como os usuários do sistema público de saúde brasileiro.

Se alimentam de ambulâncias não contabilizadas"

Fica minha sugestão: http://marcelotas.blog.uol.com.br/

Dos animais

1.

E Pimpinho, cachorrinho treloso, continua fazendo mágica. Transformando rotina em alegria. Há dez anos, todos os dias. Pirlimpimpinho!!!

2.

"Era uma vez duas pulguinhas que economizaram a vida inteira e compraram um cachorrinho só para elas" (Mário Quintana)
3.

"Era uma vez um gato chinês
que me chamou para comer um frango
xadrez
no boteco onde ele era freguês

e eu, como gata vadia
topei porque sempre podia
e fiz dele meu prato do dia"
(Martha Medeiros)

Do significado

Resolvi me aventurar na leitura de "Os Sertões", de Euclides da Cunha. Mas antes de chegar ao livro em si, preciso ler dois calhamaços que são roteiros de leitura da obra. Estou quase na metade do mais fino. A linguagem rebuscada do início do século me fez chegar à triste conclusão de que vou precisar de, no mínimo, duas vidas para ler e entender "Os Sertões". Mas um dos termos usados neste marco da literatura me chamou atenção. Descrevendo os sertanejos, Euclides se refere a eles como tabaréis. Que surpresa!

[...] "e da figura vulgar do tabaréu canhestro, reponta, inesperadamente, o aspecto dominador de um titã acobreado e potente, num desdobramento surpreendente de força e agilidade extraordinárias".

Achei uma afronta deste célebre escritor. Na minha terra (Recife), tabaréu é uma palavra recorrente. Um xingamento. Significa que o acusado é um idiota, retardado. Mas mesmo sabendo disso por experiência, corri para o dicionário a procura do significado oficial. Lá estava: Tabaréu (fem. Tabaroa) - Caipira. Ufa! Euclides não pegou pesado. Nós recifenses que pegamos, aliás. O que é caipira virou sinônimo de imbecil. Isso sim, uma verdadeira afronta.

Mas, entre meus amigos, tabaréu virou palavra carinhosa . É engraçado ouvir o termo aqui em Belo Horizonte. Só pode ser algum deles. Um dia, descendo a Guajajaras, ouvi um estridente TABARÉÉÉÚ!!! Procurei logo por um rosto conhecido. Era o Klaus com a cabeça para fora de um táxi acenando pela rua Rio de Janeiro. Sorriso feliz o meu em seguida.

E engraçado que, um pouco antes de ler a palavra "Tabaréu" pelas mãos de Euclides da Cunha, tinha me dado conta de que Tabaréu rima com Izabel (minha amiga fujona). E pensei em deixar para depois a execução de um jogo de palavras com a igualdade de sons. Mas, como vimos, o feminino de tabaréu é tabarôa. Izabel é, portanto, Tabaroa. Que rima com coisa boa...

Tuesday, May 09, 2006

Da embriaguez

"quando bebo além da conta
minha língua fica esperta e meus olhos
brilham mais
quem me dera todo dia essa alegria de taberna"

Martha Medeiros

Monday, May 08, 2006

Do título

O título do blog é resultado da minha veneração pela escritora gaúcha Martha Medeiros. Surrupiei este título de uma de suas crônicas, uma das minhas preferidas. Neste texto ela conta que estava perdida, dirigindo em um bairro onde nunca tinha colocado os pés. Quando o sinal fechou, ela parou atrás de um caminhão em cujo pára-choque estava escrito: "Não me siga que eu também estou perdido".A partir daí, ela filosofa sobre outro tipo de perdição. Um tipo que não pertence apenas aos desnorteados, providos de idiotice espacial como eu. Neste caso, "somos mais do que um. Somos muitos. Somos todos".

"Para que lado eu dobro se quiser sair deste engarrafamento de emoções, se quiser ter um relacionamento único e estável, um amor que me resgate dos arranques e das freadas súbitas deste meu coração mal-regulado? Subo a ladeira ou viro à esquerda? No topo da ladeira tem uma surpresa, no caminho à esquerda tem paixões e tudo o que elas acarretam de bom e de torturante na alma da gente, e aqui onde estou tenho segurança, mas estou estacionado, e estacionado eu não ando, eu não corro, eu não vivo, o que é que eu faço, que direção eu pego?
Você aí, saindo da padaria, pode me dizer pra que lado fica a juventude eterna?
Com licença, o senhor poderia me indicar o caminho mais rápido para a felicidade?Garoto, chega aí, você já ouviu falar em paz de espírito? Eu estou perto ou longe?"
E...

"Pé no acelerador e sorte, caríssimos. Não sigam ninguém, que estão todos à procura também".
É isso. Salve Martha.